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Fogo cruzado

Jovem de 19 anos é baleada na guerra das drogas numa universidade na cidade do Rio de Janeiro.


Por Helena Klang
Editora Convidada

17 de maio 2003

A jovem se chama Luciana Gonçalves Novaes, estudante de enfermagem da Estácio de Sá.

Mas poderia ser Maria, Joana, Rita, Helena… Helena Klang: Eu.


Helena Klang
Eu sou estudante do último período de jornalismo da Estácio, universidade localizada entre grandes favelas da zona norte do Rio, controladas pelo tráfico de drogas. Há muito tempo sinto medo de comparecer às aulas. Algumas foram as vezes que estive no fogo cruzado entre a polícia e narcotraficantes. Correria, medo, confusão. Milhares de estudantes enfrentam esta situação enquanto lutam por um diploma universitário para conquistar seu lugar ao sol. Todos fazem parte da grande massa, a maioria pobre ou classe média. E quando chegam em casa carregando tamanha indignação assistem aos noticiários.

É impressionante a cobertura da mídia. Mas impressionante para mim, uma aspirante à jornalista, pois eu sou personagem desta história, estou no campo desta guerra.

A mídia classifica narcotraficantes como bandidos contra a sociedade mas esquece que foi a própria sociedade que alimentou esta situação.

Quem mora na favela sabe o que é sofrer com a exclusão social. Gente pobre vivendo em barracos ganhando um salário mínimo por mês. O favelado sabe o que é enfrentar o preconceito pois todos os dias esbarra com homens engravatados fazendo pose de poderosos. Todos os dias enrustem um sentimento de rancor. Adolescentes se entregam ao trafico de drogas já que assim, ganharão o suficiente para comprar um tênis importado. São crianças de 12, 13, 15 anos que se rendem ao crime buscando por respeito. Assistem seus pais chegando em casa depois de uma longa jornada de trabalho para ganhar por mês o que o tráfico lhes oferece por semana. Há tempos que a sociedade sabe disso e simplesmente ignora a condição de vida destas pessoas. Quantas vezes o carioca se omitiu da responsabilidade de mudar esta situação? Como sempre acontece no Brasil, espera-se o estopim para então pensar numa solução de emergência. Nunca se pensa em algo a longo prazo porque isso significa deixar a glória da vitória para outro governo. Portanto, a postura das autoridades sempre foi: vamos invadir a favela e tomar medidas de controle armado.

Controle armado. Policiais corruptos, mal treinados e com apenas o ensino fundamental. Praticamente animais armados obedecendo ordens superiores. Invadem o morro onde moram trabalhadores e matam supostos bandidos. Os grandes veículos publicam números em seus jornais e a sociedade moradora do asfalto sente-se aliviada.

Sociedade do asfalto. Sim, porque, existem duas sociedades paralelas que não interagem entre si. Aquela que mora no morro vive em outro tempo e é estruturada por outro sistema de leis. São os traficantes que estabelecem a ordem. Os donos do morro suprem necessidades ignoradas pelo poder público. São eles que ajudam a comprar remédios para doentes, material escolar para as crianças. Mas os políticos só lembram disso quando é conveniente, em época de eleição. Não que traficantes sejam bonzinhos, não é uma apologia ao crime, mas o fato é que não existe tratamento igual para todos. Nosso abismo social é vergonhoso.

Quando os donos do morro resolveram sair das favelas e desafiar autoridades mostrando controle de poder no asfalto, a população carioca tremeu! Com a maior cara de pau disse que está situação está um absurdo, que assim não pode continuar, como se a violência dentro do morro e a própria indiferença a estas pessoas, uma das mais fortes agressões, já não existissem antes. Hipócritas começaram a buscar culpados para tamanha violência.

Alguém disse usuários. São eles os grandes vilões desta história. A grande maioria, acredita que quem consome, financia a violência.

Nós do asfalto somos os vilões desta história. Acho que estamos evoluindo, votamos em Lula e isso já é uma mudança bastante significativa.

Mas precisamos nos olhar no espelho. Perceber que nossa sociedade sempre foi cheia de preconceitos sociais, sempre foi elitista. Temos que encarar esta situação com um olhar mais humano. Somos todos seres humanos, favelados, bandidos, policiais, zona sul, zona norte. Todos nós estamos nesta guerra.

E a melhor solução para todos os seres humanos que sofrem em todas as esferas da violência é a legalização das drogas. Só ela vai revelar quem ganha cifras milionárias enriquecendo com o nosso sofrimento. Só ela vai acabar com o mercado negro e extinguir a corrupção entre policiais. Só ela vai diminuir a população carcerária e minimizar rebeliões e massacres como Carandiru e Bangu I.

Se conseguirmos extinguir tantos moralismo e agir de forma mais ética tornando legal a produção, uso e comércio de drogas, estaremos um passo a frente para enfrentar o abismo social que existe em nosso Brasil.

Helena Klang é bolsista da Escola de Jornalismo Autentico de Narco News.

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